Os idosos vão dominar o mundo

Li na Folha de 15 de outubro que os idosos estão sendo ignorados pelos mais novinhos em geral, tanto profissionalmente quanto como consumidores. E isso apesar de a população com mais de sessenta anos ter triplicado de 1970 para cá. Segundo dados do jornal, reproduzindo números do IBGE, em 1970 os idosos representavam 5,1% da população, e hoje chegaram a 15,6%, o equivalente a 33,7 milhões – parcela um pouco maios do que a faixa de 20 a 29 anos (33,5 milhões).

Portanto, uma besteira enorme esse processo de desvalorização dos jovens com mais de sessenta, porque, no frigir dos ovos, nós é que dominaremos o mundo. Senão em qualidade, pelo menos em quantidade.

Acompanhe:

Se tudo der certo, em 2050 terei 94 anos e estarei lúcido e saudável o suficiente para conferir a previsão da ONU de que nós, os idosos, teremos o dobro da população que temos hoje. Se chegamos hoje, os maiores de 65, a 761 milhões de habitantes no planeta, teremos 1,6 bilhão assim que a primeira metade do século terminar.

Comparativamente, representamos hoje 9,6% da população atual de 8 bilhões de terráqueos; em 2050, alcançaremos 16,5% da população mundial, estimada em 9,7 bilhões. Continhas simples de regra de três indicam que, enquanto o número de viventes vai crescer 2,12% em 27 anos, os maiores de 65 terão um crescimento de 6,9% em relação a 2023.

Não me lembro nada dessas coisas de progressão aritmética e geométrica, mas, dentro dos limites de minhas noções básicas, em 2077 – 27 anos além de 2050 – nós seremos 23,4% da população, que estará em torno de 11,7 bilhões. Ou seja, seremos 2,73 bilhões. Falo em ‘nós’ de uma maneira genérica, porque não acho que vá ver chegar o ano de 2077.

Se estiver vivo, o que é um pouco difícil, terei 121 anos, e meu cérebro provavelmente não será mais tão confiável.

Esses dados são globais e passíveis de alterações locais. No Brasil, por exemplo, a população idosa representa hoje os 15,6% que citei no primeiro parágrafo e deve chegar a 22% em 2050. Na Europa, é 20% e vai atingir 30% em 27 anos. Nas demais áreas, a previsão de crescimento varia pouco: 19% na América Latina e Caribe; 18,5% na Oceania; 24% na América do Norte; 19% na Ásia. Na África, que tem os maiores índices de natalidade, a previsão é de que a população idosa cresça apenas 5,7% até a metade do século.

Essas são notícias alvissareiras a nós, que estaremos vivos, mas não serão nada boas em relação à população em geral, caso não sejam adotadas políticas públicas que garantam, pelo menos, o nível de emprego. Ou vocês acham que os velhinhos todos vão sobreviver com as aposentadorias?

Marco Antonio Zanfra

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