Oh, céus! Oh, vida! Oh, azar!

Numa piada que contava em um show há vários anos, ainda na minha adolescência – sim, leitores incréus, eu já fui adolescente! – Juca Chaves questionava o comportamento algo, digamos, otimista da hiena: se o animal só se alimentava de carniça e praticava o sexo apenas uma vez por ano, que motivos teria para rir?

Era uma pergunta retórica, claro. Mas parece que agora, mais de 50 anos depois, está sendo respondida: as hienas usam as risadas como forma de identificar-se dentro do grupo, segundo pesquisa realizada por cientistas da Califórnia, nos Estados Unidos.

Quanto mais grave o som emitido, mais velho é o animal e, portanto, maior ascendência tem sobre o resto do bando. Ou seja: se é para alimentar-se de carne em decomposição e ter sexo uma única vez ao ano, que os mais velhos sejam os primeiros a comprazer-se nessa orgia desmedida de sentidos.

O estudo indica que as hienas mais jovens têm a risada mais estridente e riem mais, como costumam rir os mais jovens e inconsequentes animais de qualquer espécie, inclusive os racionais. Com a idade, a risada vai ficando mais grave e, com a posição hierárquica superior, mais comedida. Na disputa por alimentos escassos, o líder do bando solta uns poucos grunhidos e consegue a primazia. Uma espécie de carteiraço lá entre elas.

É claro que essa pesquisa deve ter sua importância para alguma coisa, qualquer que seja, mas funciona também como uma espécie de estraga-prazeres: que graça tem saber que a hiena não ri por prazer ou por felicidade? Que graça teria agora o personagem de desenho animado Hardy Har Har, construído justamente como a antítese ao estereótipo que adotávamos até então sobre a personalidade otimista do animal. Pois é: a ciência é legal, mas às vezes o conhecimento empírico destrói algumas ilusões e, principalmente, alguns motes de piadas.

Ou, como diria o próprio Hardy: Não vai dar certo, Lippy!

Marco Antonio Zanfra

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