Nós, os escanifrados

Se o querido leitor imaginava que só os gordos e os baixinhos eram vítimas dos apelidos depreciativos, das avaliações pouco carinhosas de seu aspecto físico, enganava-se redondamente. Nós, os magros, também somos discriminados. Os escanifrados, os magricelas, os esganzelados como eu também não gozam de muita condescendência pública por sua aparência diáfana.

Se os gordos e os baixinhos estão fora de um ‘padrão’ estético estabelecido sabe-se lá por quem, os magros em excesso também andam pelas beiradas da tabela.


É claro que não poderíamos ser chamados de Baleia e Pudim de Banha, ou de Pouca Sombra e Salário Mínimo, mas, convenhamos, SecoPau-de-Virar-Tripa e Saco de Ossos também não soam nada agradáveis a ouvidos minimamente sensíveis.
E o pior é que os ‘magros de ruindade’ sequer somos levados a sério quando pretendemos tentar reverter nossa secura: para os médicos, somos assim por predisposição genética, por causa do tipo físico e por termos o chamado ‘metabolismo perfeito’.

Não é doença. Não há recurso da medicina que corrija. Temos de nos conformar, pois.


Aos 69 anos, medindo 1m76 e chegando aos 60 quilos quando a balança está de boa vontade, não me conformei, no entanto. Embora isso não signifique que lute obstinadamente para ganhar peso – mesmo porque não adiantaria nada – acho que poderia pesar pelo menos uns oito ou dez quilos a mais. Nem me consola saber que faço parte do seleto grupo de cinco por cento da população que foram agraciados com o metabolismo perfeito.


Trocaria esse privilégio por um pouco de gordura localizada, por mais massa muscular, por braços e pernas menos esqueléticos e por costelas menos aparentes. Gostaria de parar de ouvir a eterna sugestão de levar pedras nos bolsos para não correr o risco de ser carregado por um vento mais forte, ou de evitar ficar de perfil para não pensarem que fui embora.

Gostaria de saber que, quando uma mulher me olha duas vezes na rua, foi por causa de meus belos olhos, e não para certificar-se de que não havia acabado de olhar para uma placa de trânsito com roupa.


E não gostaria mais de ouvir os comentários de ‘você emagreceu’ – como se isso fosse possível – por parte de pessoas que ficam alguns meses sem me ver: não, eu não emagreci; estou é secando, mesmo…

Marco Antonio Zanfra

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