– Só este pepino?
A pergunta simples e direta caiu como uma bomba. Após recolher o vegetal, nem muito grosso, nem muito fino, estendido sobre a esteira, a operadora do caixa do Sonda olhou para o Vitor, meu filho, e depois para o seu amigo. Podia ter perguntado em tom mais baixo. Ele nem olhou para os lados, mas teve a impressão de que todos os demais caixas e clientes ouviram e se viraram na direção deles. Passaram uns três longas-metragens pela sua cabeça. Claro, o destino do pepino poderia ser uma salada ou, o que era o caso, um drinque delicioso, mas como explicar isso para ela naquele momento?
Ficou se indagando por que diabos não compraram também uma batata frita, uns amendoins, azeitonas, sei lá, um tira-gosto qualquer. E por que, raios, um único pepino? A pergunta da moça do mercado não parece capciosa, não traz aparentemente nenhuma dose de ironia ou de malícia, mas e se no fundo, ela estiver contendo o riso ou perguntando só de sacanagem? Poderia também estar imaginando, bem no seu íntimo, como aqueles dois marmanjos iriam usar o pepino.
Seu amigo, barbudo, mais robusto e forte, não parecia ter sido muito afetado pela situação, mas e ele? Mais jovem, mais franzino, branquinho, imberbe, ficou a imaginar o que se passava na cabeça dela e nas das demais pessoas ao redor. Veio à mente até a possibilidade de a operadora ser evangélica. Caso fosse mesmo, quem sabe não estivesse condenando os dois devassos ao fogo dos infernos com essa vadiagem (eu disse vadiagem) toda.
O fato é que fizeram de tudo para resolver logo o imbróglio. Pagaram, deu nem um real, pegaram o pepino, dispensaram até o saquinho, e saíram rapidamente dali. Agora, com a cabeça mais tranquila, antes que esta história enverede ou sugira coisa pior, a explicação do fato de eles terem ido ao supermercado para a compra do pepino solitário. Ele mora sozinho num apartamento de dois quartos, no bairro da Mooca, em São Paulo e, de vez em quando, costuma alugar um deles.
Nesta segunda-feira (vejam só), está comemorando a chegada de seu mais novo inquilino, o Cris, de quem é amigo até hoje. Para marcar a data, ele lhe trouxe um gin Bombay Sapphire, um dos mais apreciados em todo o mundo. Antes de abrir a garrafa, Cris se lembrou de que todo barman que se preza costuma colocar um pedaço de pepino no copo para quebrar a acidez da bebida. Sem nenhum pepino à disposição no momento, decidiram ir até o supermercado, a duas quadras do prédio onde mora. O resto vocês já sabem…
Ahahah, essa história é ótima! Mas nos tempos em que eu bebia, pepino pra mim era tira-gosto!
Melhor usar no rosto que na bebida hein?
Nunca bebi pepino. Mas, vá lá.