Nada de novo sob o sol?

Antigamente, quando a gente via na TV uma propaganda com imagens de uma turma sarada jogando vôlei na praia, suando debaixo de um sol escaldante e depois despejando sem escalas uma garrafa de refrigerante geladinho goela abaixo, a gente quase sentia o mesmo efeito refrescante que sentiam os personagens da tela. Era a catarse do refrigério. Dava até sede.

Atualmente, porém, essas mesmas imagens nos remeteriam a duas conclusões muito menos simples e nem um pouco refrescantes. A primeira é que, se a turminha sarada não estivesse devidamente lambuzada por um filtro solar de fator 50, pelo menos, correria o sério risco de deixar de lado as agradáveis recordações do lazer para enfrentar um câncer de pele num futuro próximo; a segunda é que, se escapasse do melanoma, não estaria livre de ser alcançada por um câncer de pâncreas, associado ao prazer do refrigerante que reidratou com ímpeto juvenil sua garganta ressequida.

Ou seja, as soluções estão cada vez mais deixando de ser simples. Os pequenos prazeres estão cada vez mais restritivos e perigosos. Quem diria, até pouco tempo atrás, que jogar uma partida de vôlei na praia e depois refrescar-se com uma Fanta gelada poderia representar risco de vida?

Reconheço que a camada de ozônio enfraquecida pela ação irresponsável do próprio homem está sendo insuficiente para conter a voracidade dos raios ultravioleta, e o sol é realmente uma ameaça à espreita, quente, visível e constante. Mas e os refrigerantes? Eles existem desde minha infância, são preparados e adoçados da mesma maneira desde que eu era um garotinho, e só agora, mais de sessenta anos depois, descobriram que podem ser cancerígenos?

Já fui mais natureba, já fui adepto de sucos naturais, mas hoje sou fã de refrigerante. Virei dependente químico do gás carbônico, e acho que não tomaria um refrigerante se não houvesse aquelas bolhinhas de gás chapiscando minha garganta. Mesmo a água mineral, para mim, tem de ser gasosa. Por isso, não deixa de mexer com meus temores – mais evidentes agora que estou na flor da idade, mais precisamente na flor da terceira idade – a informação de que ingerir duas ou mais latas de refrigerante com açúcar por semana aumenta em 87% o risco de câncer no pâncreas.

Mexe mais ainda com meu senso de preservação porque essa não foi a primeira porrada que tomei em relação aos refrigerantes: não faz muito tempo, uma pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor indicou que sete entre 24 refrigerantes analisados – entre eles a Fanta, uma de minhas habituais – tinham benzeno, uma substância potencialmente cancerígena (relacionado a casos de leucemia e linfomas) surgida da reação entre o ácido benzoico e o ácido ascórbico, a popular vitamina C.

Lógico que essa primeira notícia me abalou. Comecei até a sentir um gostinho estranho no refrigerante, principalmente porque associava o benzeno à benzina, produto que a gente usava para limpar equipamentos no curso de eletrônica do segundo grau. Mas depois passou, como tudo passa! Como vão passar esses assomos de medo provocados pelos 87% de risco de câncer de pâncreas que estão pairando sobre minha cabeça, a ameaça mais nova a ser acrescida ao rol de ameaças que nos acompanham somente por estarmos vivos.

Primeiro, porque as verdades absolutas sobre a saúde vêm e vão, e às vezes deixam de ser verdades absolutas em menos de um mês. Segundo porque, mesmo que eu deixe de tomar meus refrigerantes e viva mergulhado num pote de protetor solar, novas e incontáveis ameaças vão sempre estar atrás da moita. Não acabaram de descobrir que a nicotina é residual, fica impregnada nas paredes dos locais onde se fumou durante alguns meses, e que mesmo nem estando por perto quando alguém fumou naquele local você pode ser atingido por seus efeitos maléficos?

Viva-se com um barulho desses!

Marco Antonio Zanfra

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