Mistifório é um sinônimo de miscelânea. Que, em sentido figurado, é uma mistura de coisas diferentes. Ou confusão, salgalhada, misturada, salada, mixórdia, promiscuidade, matalotagem, mosaico, coletânea, massamorda, maçarocada. Mistifório tem, literalmente, uma miscelânea de significados.
Pois não parece um mistifório – ou miscelânea, ou mosaico, ou coletânea, ou maçarocada… – o cenário montado com estatuetas no jardim desta casa à margem da rodovia Francisco Thomaz dos Santos-Seu Chico (*) em Florianópolis, Sul da Ilha de Santa Catarina, conforme a foto que ilustra o texto?
Tem os três porquinhos (mas dois são idênticos); tem a Branca de Neve e seis anões; tem um sapo, que é quase do tamanho de um jacaré, que é dobro do tamanho de um dos anões; tem uma girafa de pescoço curto que é pouca coisa mais baixinha do que a Branca de Neve; tem o Pica-Pau; tem dois marrecos de pescoço comprido (ou gansos de pescoço curto); tem um burro de carga com dois cestos cheios; tem cachorro, tem coelho, tem um gato enorme…
Já tive curiosidade de saber como o dono da casa montou seu mistifório, mas me faltou coragem para tocar a campainha e perguntar: nesses tempos polarizados, eu corria o risco de ser recebido por um não é de sua conta ou por um cuide de sua vida e não poderia reclamar. Preferi, então, criar minhas próprias versões. Uma delas é que ele é um avô bonachão com vários netos e todos eles tiveram a ideia original de alegrar seu gramado com uma estatueta.
Outra é que ele prestou serviços a uma floricultura e, diante das dificuldades financeiras da empresa, recebeu seu pagamento em artigos à sua escolha. Isso já aconteceu comigo: quando pré-adolescente, andei pintando bonequinhos para um fabricante de brinquedos e recebi como pagamento um castelo medieval cheio daqueles bonequinhos que eu pintava.
Uma terceira alternativa é ele próprio ter sido dono de uma floricultura, que fechou as portas. Os bonecos foram o que lhe restou de seu acervo. Talvez até estejam à venda.
(*) O ‘seu Chico’ que batiza a rodovia não foi nenhum herói nacional, mas vítima de um assassinato. Ele morava na região e tinha uma moenda de farinha de mandioca e um alambique artesanal. Foi morto em setembro de 1996, com um tiro nas costas e golpes de facão. Virou até tema do ‘Linha Direta’, antigo programa policial da Globo. O principal suspeito de sua morte era seu sobrinho, Mario Roberto de Souza, o Marinho, que foi absolvido 12 anos depois do crime por falta de provas.