Quando eu era criança, coisa de sessenta anos atrás, lembro que a molecada mais velha costumava brincar com nossos brios ao cantar uma musiquinha que o mais que fazia era nos deixar com medo do que o futuro reservava à nossa masculinidade. A música antecipava como nosso na época ainda impúbere corpo ficaria quando a velhice nos alcançasse. Os versos:

Tô ficando velho/Tô ficando fraco/Tá encolhendo o pinto/Tá espichando o saco!

Era uma previsão bastante escabrosa. Aos oito, dez anos, já tínhamos consciência e orgulho de nossos dotes. Como imaginar que aquilo tudo era transitório, e que nada poderíamos fazer para fugir do destino?

Na idade atual, felizmente, não cheguei – e espero nunca chegar – a confirmar as previsões que cantavam para nós. Pensando com a cabeça de agora na ameaça de então, aquilo bem que podia ter sido uma precursora das fake news que passaram a ser corriqueiras desde que vocês sabem quem chegou para tumultuar nossa democracia!

Com a diferença de que, no nosso caso, a concretização da ameaça demoraria ainda um bom tempo para nos atingir, e por isso não chegaria a provocar realmente uma situação de pânico. Nem nos levaria a colocar em indevidos lugares arautos do fim do mundo. 

Se com a gente não houve pânico, o mesmo não se pode dizer da população masculina de Singapura, no final de 1967. Ali, as fake news pegaram pesado: milhares de homens foram convencidos de que seus pênis estavam encolhendo, e que isso seria suficiente para matá-los. Houve histeria em massa. Os homens tentavam desesperadamente segurar seus órgãos genitais, usando tudo o que tinham à mão: elásticos, prendedores de roupa, barbante.

Médicos inescrupulosos locais lucraram, recomendando várias injeções e remédios tradicionais. As fake da hora diziam que a redução peniana era causada por algo que os homens haviam comido, e eles atribuíram o problema à carne suína, especificamente de porcos que haviam sido vacinados num programa imposto pelo governo. As vendas de carne suína despencaram rapidamente.

Parece que vacina era e ainda é um fetiche para mentes tacanhas.

Desconheço a palavra que defina a fobia pela perda do pênis – seja com carne de porco, seja depois de ficar velho e fraco – mas descobri outro dia no Instagram algumas que podem estar relacionadas ao uso sexual do objeto em questão:

– ITIFALOFOBIA, que é o medo de ereções;

– VENUSTRAFOBIA, o medo de mulheres bonitas;

– FILEMATOFOBIA, que significa medo de beijar.

Vale lembrar que, no caso do desaparecimento do pênis, o beijo pode ser uma opção salvadora. 

Marco Antonio Zanfra

Um comentário

  1. Muito esclarecedor. Meu pai sempre foi uma cara tranquilo, morreu aos 65 anos, vítima do mal de Chagas. Depois de grande só lembro de ele ter ficado bravo comigo uma vez. Eu disse que ele estava na idade do metal: prata no cabelo, ouro nos dentes e chumbo no pau

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