Todo jornalista com vários anos de trabalho em redações deve ter um currículo respeitável: repórter, redator, revisor, chefe de reportagem, pauteiro… Nada diferente deste cronista, nos vinte e cinco anos em que trabalhou nas redações de jornais e revistas.
Mas com um detalhe que eu duvido que os outros tenham: também fui mensageiro, ainda que apenas por um dia.
Mensageiro a serviço do jornal, ou do dono do jornal, quero deixar claro! Colocado a serviço pelo chefe de reportagem, o lendário Adílson Laranjeira, e usando um carro de reportagem do tempo em que a Folha ainda tinha seus fuscas amarelos e brancos.
Aconteceu num dia em que o velho Otávio Frias de Oliveira precisava mandar documentos para a sucursal de Curitiba, e, para evitar pagar um ‘courier’ ou o Sedex – que eu nem sei se já existia – pediu que os documentos fossem encaminhados por um portador anônimo, um passageiro do voo São Paulo-Curitiba que se dispusesse a carregar o pacote e entregá-lo a um receptor no aeroporto paranaense.
Os documentos eram necessários para legalizar a compra de milho. Seu Frias tinha uma granja em São José dos Campos, a ‘Itambi’, e precisava alimentar seus franguinhos, muitos deles que viriam a alimentar os funcionários no restaurante do jornal. Minha função era retirar o envelope na casa do patrão, levá-lo a Congonhas e entregá-lo a um portador de boa vontade – missão que acabei concluindo graças a Pedro Arnaldo, setorista da Folha no aeroporto.
O mais interessante da missão é que o mensageiro com registro na DRT ficou quarenta minutos na porta da cozinha da casa do patrão – em pé, sem que lhe oferecessem um copo de água ou um café – enquanto seu Frias terminava de montar a documentação. E com direito a ouvir dona Dagmar mandando a empregada levar “um suco de laranja para o Tavinho”, que ainda não assumira seu protagonismo na Folha e estava devidamente na cama ainda àquele horário (já havia passado das dez).
Reclamar do quê? Eu era um simples empregado… Mas confrontei o velho no elevador da Barão de Limeira e ele acabou agradecendo, meio a contragosto, por minha dedicação.
Brinquei lá no começo, mas nunca pus esse meu desvio de função no currículo.