Eu sou do tempo em que alguns ícones gastronômicos paulistanos eram verdadeiros orgulhos para a cidade.
A lista é grande, mas, só pra citar alguns, tinha a esfiha aberta com limão ao lado da catedral da Sé. Essa esfiha, a gente colocava inteira sobre a língua, dava no máximo duas mastigadinhas e… pimba! descia feito carne de ostra com ajuda de um gole na caçulinha da Antárctica.
E o churrasquinho grego? Esse a gente encontrava em vários pontos do centro. Eu comia um que tinha ao lado da Caixa Econômica, também na Sé. Era um totem de carnes, das mais suspeitas, que o vendedor ia desfiando com uma faca fina e comprida, colocando os fiapos de carne num pãozinho “na canoa” (sem miolo). Era uma delícia e o melhor mata-fome que já comi.
Outra delícia emblemática na capital paulistana é a coxa-creme da padaria Santa Tereza, na João Mendes. Essa padoca é pioneira não só na cidade como em todo o Brasil. Ela é de 1872. Olha… quem comer uma coxa-creme lá já pode morrer no dia seguinte que morrerá feliz. Muito diferente da tradicional coxinha, que tem duas horas de massa de batata cobrindo 5 minutos de frango, a coxa-creme é uma coxa de galinha mesmo, recoberta com uma pá de ingredientes. Tem creme de leite, manteiga, ovos, salsinha… só não tem banheiro! Não é uma simples coxa… é uma coisa de cinema, onde o creme compensa!
Quem aí já comeu no Rei do Filé, na Júlio Mesquita? Ou o sanduíche de mortadela lá no Mercadão da D. Pedro? Ou o pastel de carne da japonesa lá no Pacaembu? Ou um sanduíche de pernil no bar “Estadão”? Ou um sanduba de lombinho canadense com um chopp lá no Lírio da Líbero Badaró? Ou… ah! como eu disse a lista é longa e, provavelmente, esqueci alguns importantes. Se lembrar de outros deixe aí nos comentários.
Mas um desses emblemas culinários da capital paulistana não esqueci, não! Deixe-me até estufar o peito pra escrever o nome dessa delícia: o bauru! Só de escrever o nome dele, correm-me lágrimas… estranhamente pelo canto da boca. Olha… não tem Mcdonalds, Burguer King, KFC, FMI, FBI… que chegue aos pés de um bauru! É um sanduba com personalidade, elegância, sabor incomparável e… com história!
Conta-se que, em 1936, o estudante de direito da USP e radialista Casimiro Pinto Neto, da cidade de Bauru, entrou com uma fome de anteontem no bar já conhecido na época como Ponto Chic. Entrou e já foi dando a receita: “Me faz aí um sanduíche com pão francês, na canoa, 3 fatias de rosbife, duas rodelas de tomate, picles e cobre tudo isso com queijo derretido”. O cara do balcão fez exatamente como ele mandou e ele comeu como se não houvesse amanhã.
O cara do balcão chamava-se Antônio Alves de Souza, que viu naquele sanduíche inédito um futuro promissor. Mais tarde, ele e a mulher compraram o Ponto Chic do patrão, lá do Largo do Paissandu e fez do bauru o carro-chefe da casa, sempre mantendo a receita original do estudante Casimiro, que tinha como apelido Bauru. Casimiro, em 2014, faria 100 anos de idade. Morreu em 1983. Deixou um legado precioso! Um apelido e uma receita!
Infelizmente, Antônio Alves de Souza faleceu aos 92 anos, deixando quatro lojas Ponto Chic: Largo do Paissandu, Paraíso, Perdizes e Brooklin. Nora, netos e bisnetos tomam conta do negócio e estão sempre prontos para receber e servir o mais delicioso sanduíche já feito na cidade de São Paulo, conhecida, sem favor algum, como a capital da gastronomia.
Em dezembro de 2018, o bauru foi declarado patrimônio imaterial do Estado de São Paulo. A gente ainda vai falar mais disso… outro dia, porque agora bateu uma fome etíope aqui! Até mais!
Dessa sua singela lista, comi o filé de cinco centímetros de altura (com meio quilo de alho por cima) do Morais e o pernil em lascas do Estadão. Sanduíche de mortadela eu comia na São João, quase Ipiranga, onde a Ceratti tinha montado um posto avançado (um balcão simples onde podiam achegar-se, em pé, no máximo cinco pessoas). Pensando bem, nunca entrei no Mercado de Cantareira; como morava perto do Mercado da Lapa, fazia minhas compras por lá mesmo.
Zanfra… conheço o Mercado da Lapa… muito bom também! Mas meu… você precisa conhecer o Mercado da Cantareira! É um dos mais maravilhosos universos hortifrútigranjeiros e outros quetais do país. Dá vontade de comprar de tudo! Vai lá quando puder!
Aurélio, boas lembranças, mas como já lhe falei, faltaram a calabresa da rua São Bento, e o churrasco grego, com direito a um Q’Suco.
Desculpe, vc falou do churrasco grego