Jurassic game

Duvido que algum integrante de minha interminável série de meia dúzia de leitores tenha empunhado o controle de um Atari. Duvido, aliás, que parte desse seleto grupo saiba o que diabos significa Atari.

Claro que não quero aqui tripudiar sobre os que não têm meus conhecimentos jurássicos sobre jogos eletrônicos, mas vale lembrar que é preciso ter passado um pouco dos quarenta anos para ter vivido um Atari.

E, com a velocidade com que se desenvolve a informática – em que um aparelho se torna obsoleto dois meses depois de lançado – é muito natural que um game surgido em 1983 tenha sobrevivido provavelmente apenas nos livros de história.

Eu já era pai quando o avô paterno de minha filha comprou um Atari, logo após o lançamento, ele – aos 52 – já um pouco passado da fase de brincar com jogos eletrônicos. Mas foi através dele que conheci o Pac Man, o Space Invaders e uns joguinhos de tênis e futebol tão primitivos quanto era uma caixinha quadrada com um palito no meio em relação à multifuncionalidade de um joystick moderno.

Evocar o Atari não é, todavia, um ataque gratuito de saudosismo, mesmo porque não curti a ‘novidade’ e só comecei a achar alguma graça nos games a partir da geração Nintendo. Só me lembrei do Atari quando li matéria associando videogames a idosos – e não havia nada mais idoso em relação a videogames do que um Atari.

Dizia o texto que o treino de idosos com um videogame customizado melhorou o desempenho não só em relação ao próprio jogo, mas em outras funções, como a memória de curto prazo. O jogo, batizado de Neuroracer, tinha duas missões: uma era clicar rapidamente quando um círculo verde surgia na tela, mas não quando outros símbolos apareciam; a segunda era manter um carro primário no centro da pista, enfrentando curvas e altos e baixos.

Para começar o estudo, foram avaliadas 174 pessoas de 20 a 79 anos. Eles jogaram uma versão só com os símbolos e outra que exigia controlar o carro e responder aos símbolos. Com isso, foi possível medir a queda de performance ao realizar as duas tarefas ao mesmo tempo. Como se esperava, os jovens de 20 anos tinham uma queda menor (27%) no desempenho do que os idosos (64%).

Depois, 46 adultos de 60 a 85 anos foram divididos em três grupos: um usou o jogo em sua forma completa, com carrinho e símbolos; o segundo usou só um ou outro e o terceiro não jogou. Ao comparar os resultados de testes cognitivos feitos antes e depois das quatro semanas de treinamento, os cientistas perceberam que os idosos tiveram desempenho até melhor do que o dos jovens que usaram o jogo só uma vez. Mas o melhor foi a constatação de que outras habilidades, como a capacidade de alternar a atenção, também melhoraram.

Isso até pode significar alguma coisa, mas eu acho que é mais do mesmo: qualquer atividade mental persistente vai manter o cérebro ativo, em qualquer idade, seja por um videogame, seja por palavras cruzadas, seja por jogos de raciocínio.

No meu caso – que há nove frequento legalmente aquela fila de supermercado que tem de tudo, menos pessoas que podem frequentá-la legalmente – espero que a escrita seja uma atividade motivadora do cérebro. Porque em relação a videogames não encaro nada além de um Paciência Spider ou Mahjong…


Marco Antonio Zanfra

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