It all started with the Big Bang?

Numa época remota de minha vida, eu não gostava de mamão. E hoje considero a fruta indispensável no meu dia a dia. Tem sabor inigualável e faz um bem danado. O que mudou? Eu evoluí? Ou foi o mamão que evoluiu?

Mas cheguei até aqui não para falar do mamão, mas da evolução. Não sou religioso, não acredito em Deus – pelo menos não nesse Deus à imagem e semelhança do homem, que cuida das ações de cada um de nós particularmente, e é tão misericordioso que deixa criancinhas morrerem de câncer; ou que provoca atentados terroristas em seu nome; ou que inspira testemunhas de Jeová a te acordarem domingo às sete da manhã. Mas, mesmo sendo contra a teoria do criacionismo, tenho na cabeça uma pergunta irrespondível: como tudo começou?

Entrei numas de questionar o universo num local pouco, digamos, ‘instagramável’, mas altamente adequado a reflexões profundas: o vaso sanitário. E o assunto tinha tudo a ver com o local: o aparelho digestivo. Veja: você come (precisa se alimentar para manter a máquina funcionando), a comida é digerida, os nutrientes, enzimas e aminoácidos são extraídos, ao mesmo tempo em que as toxinas e materiais inservíveis são descartados ao final do processo (não preciso explicar como).

E isso sem que a gente tenha de pensar ou apertar algum botão. É tudo automático. Assim como outras funções orgânicas que ocupam nosso dia a dia sem que precisemos pensar nelas. E isso leva à conclusão de que somos uma grande obra de engenharia. Longe da perfeição, é claro, mas somos um mecanismo que pode funcionar ininterruptamente às vezes mais de um século. Coração, pulmões, cérebro, sistema reprodutor, tudo isso funciona sem qualquer interferência nossa, além de um ou outro ajuste de percurso.

Um exemplo de que a gente passa o tempo todo ignorando o funcionamento da máquina aconteceu quando fui fazer um ecocardiograma: ouvindo o coração bombeando o sangue em alto e bom som, pensei na possibilidade de que ele pudesse parar de uma hora para outra. Aquilo me assustou, deu medo. Mas foi só naquele momento. No resto do tempo ele continua batendo por conta dele, meus pulmões continuam respirando por conta deles, meu pâncreas produz a insulina que ele acha suficiente e meus rins filtram o sangue da maneira que eles consideram adequada. Eles não precisam de mim.

Somos um mecanismo autossustentável, autorregenerativo e de operação autônoma. Mas de onde vem esse equipamento complexo? A única coisa em que não ponho dúvidas na Teoria do Big Bang é na comédia com o mesmo nome que está sendo reprisado na Warner e que eu assisto de novo e de novo e de novo. No mais, tem suas fissuras, talvez provocadas pela detonação..

Se tudo que temos hoje é consequência da explosão, ficamos com uma dúvida básica: o que foi, afinal, que explodiu. Alguma coisa deveria existir para explodir; um polo positivo e um negativo, algumas galáxias, um sol dez vezes maior que o nosso? Não poderia haver uma explosão do nada, e mesmo se fosse o nada deveria estar lá para explodir. De onde veio o nada, nesse caso?

Darwin estudou a evolução das espécies e vejo o maior sentido nesses estudos. Mas, para evoluir, alguma coisa tem antes de existir numa forma primitiva. O mamão poderia ter a forma de uma bolinha, por exemplo… O corpo humano poderia ser oco e suas funções foram acrescentadas aos poucos… Mas isso não elimina a necessidade da existência de uma forma primitiva, por microscópica que seja, por incompleta que seja.

Alguma resposta?

Resta lembrar que tudo isso passou pela minha cabeça, veja só, na hora em que estava vendo se o aparelho digestivo funcionava até o fim.

Em tempo: O título do texto é um verso da música da banda Barenaked Ladies que servia de tema para o seriado ‘The Big Bang Theory’. A interrogação é por minha conta.

Marco Antonio Zanfra

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