Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Jorge Amado e tantos outros escritores e artistas já tiveram os nomes dados a escolas, bibliotecas, ruas, avenidas, praças. Recentemente, vimos Niterói homenagear seu filho ilustre, Paulo Gustavo, mudando o nome de uma de suas principais avenidas.
É só isso que pode esperar um grande escritor ou artista, depois que sai do plano terreno? Falta criatividade aos políticos que assinam tais propostas? Provavelmente… Bem melhor quando escolas de samba ou outros artistas resolvem prestar homenagens a grandes representantes da nossa Cultura e da nossa Literatura! São geniais!!!
Recentemente, um político superou até a capacidade de fazer política sem usar muletas: deu o nome de uma grande escritora a uma agência de notícias estatal, usada para promovê-lo.
Não é por nada, não, mas seria a mesma coisa que fazer jingle de campanha eleitoral, usando uma poesia de Drummond! Será que grandes autores, se fossem vivos, gostariam de ver seus nomes usados em campanhas políticas ou em agências estatais?
Diante do dilema, resolvi dar algumas sugestões de homenagens a eles e que podem contribuir para valorizar a Educação e a Cultura. Homenagens que, com certeza, honrariam seus nomes.
Numa época de pandemia, de uso dos meios virtuais para quase tudo, que tal se governos estaduais e municipais distribuíssem livros para os estudantes? Livros físicos, já que a Internet dá a muitos escritores a autoria de frases, artigos e poemas que nunca disseram nem escreveram! Poderiam ler em casa, compartilhar com irmãos e amigos e aprender muito, com mestres que já deixaram este mundo e se eternizaram na Literatura.
Vocês podem achar que, hoje, vale mais o mundo virtual. Então, tá: vale criar um “Programa de Ensino Cora Coralina”, por exemplo. Ele incluiria a doação de tablets e celulares, com internet grátis, para estudantes carentes terem aulas virtuais. Cora Coralina, que não teve muita oportunidade de aprender numa escola formal, ficaria extremamente feliz com uma homenagem assim. Ela aprendeu na escola da vida e – convenhamos – a escola da vida, hoje, não é nada agradável para os mais vulneráveis. Os capitães de areia, descritos por Jorge Amado, atualmente, iriam parar na cadeia ou em cemitérios. Se as crianças, mesmo dentro de casa, correm o risco de serem fuziladas pela Polícia ou por bandidos, imaginem se resolverem aprender na escola da vida! Não vai rolar coisa boa, não….
Bom lembrar que os gestores também podem criar um programa de valorização dos profissionais da Educação, que inclua a melhoria dos salários de todos eles, desde os professores até os responsáveis pelo preparo da merenda e limpeza das escolas. Seria uma espécie de programa do tipo “Dê valor a quem lhe dá valores”, em homenagem a Cecília Meireles ou outro escritor de renome.
Claro que as escolas físicas, mesmo que não estejam sendo usadas, merecem ser cuidadas. Programas de manutenção contínua, em parceria com a comunidade, representariam uma grande homenagem a qualquer escritor. Algo do tipo “Nossos filhos também moram aqui”, lembrando que as crianças passam parte de seu dia na escola, onde, inclusive milhares recebem alimentos que, muitas vezes, não tem em casa.
E que tal um festival de música e de escrita virtual, coordenado por artistas locais? Eles – os artistas – também foram extremamente castigados nesta pandemia e ficaram sem nenhuma renda, porque não tem como se apresentar em público. Eles organizariam o festival e julgariam os trabalhos apresentados pelos alunos. Um “Festival Plínio Marcos de Criação”. Viria a calhar para incentivar artistas mirins e prover renda para os artistas locais.
Em Goiás, fizeram o “Caminho de Cora Coralina”, por estradas que ela nunca trilhou. Espalharam versos da escritora em vários pontos, o que pode até incentivar a leitura de seus livros. Mas o objetivo principal é levar as pessoas a visitarem outros municípios históricos do estado, já que o turismo estava se concentrando muito mais na Cidade de Goiás, onde ela nasceu. Uma homenagem válida e criativa, que pode até ser copiada por outros gestores estaduais e municipais.
Voltando à pergunta inicial: grandes autores gostariam de ver seus nomes em agências estatais de notícias, divulgando ações de governo, ou em peças publicitárias politicas? Acredito que não. Se fosse comigo, consideraria um ultraje!
Deixo a palavra final a um escriba do blog, com livros publicados e muito elogiados: o que você acha, Marco Antônio Zanfra?
Tudo o que você diz eu assino embaixo, Célia! Você falou da trilha com os versos da vovó e eu me lembrei de que, antigamente, havia placas com versos do ‘Rancho de Amor à Ilha’ – música de Zininho que acabou virando hino de Florianópolis – no trecho da estrada que leva à Lagoa da Conceição. Era lindo, um incentivo a que se conhecesse a obra completa. Pena que não tem mais. Acho que essa trilha que você citou pode muito bem servir a esse propósito.
Brigadão, Zanfra. E pode colocar o comentário no Facebook. Vou postar lá e no Twitter.