Fragmento do livro ‘As duas guerras de Vlado Herzog’, de Audálio Dantas (Editora Civilização Brasileira):
(…) Novos adeptos eram arregimentados nos bares próximos às redações: o 308, na alameda Barão de Campinas, uma das entradas da Folha; o Miranda, na Barão de Limeira, ao lado da entrada principal do jornal; o Mutamba, na Major Quedinho, onde ficavam as redações do Estadão e da Gazeta Mercantil (…).
No trecho, Audálio narra o nascimento da oposição sindical no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, movimento que culminou com a eleição do próprio Audálio, com o fim do peleguismo e com a presença marcante dos jornalistas na histórica reação contra a ditadura militar, nascida após o assassinato de Herzog.
Lendo o livro, senti-me parte, se não da história, pelo menos dos cenários históricos – afinal, em época um pouco posterior, frequentei muuuuuito esses bares.
No 308 – que, aliás, chamava-se Churrascaria Transamazônica e, aliás de novo, ficava no número 306, e não no 308, da Barão de Campinas – fazíamos as históricas reuniões festivas da Folha, além de prosaicas refeições. O frango à passarinho era proverbial. O restaurante tinha o hábito de cobrir as mesas com enormes folhas de papel, e jornalista tem o hábito de rabiscar enquanto fala. Resultado: quantos poemas, frases célebres, pautas revolucionárias e esboços premiados não se perderam naquelas folhas?
Conta a lenda que Carlos Caldeira Filho, então sócio de Otávio Frias de Oliveira na Folha, tentou comprar o restaurante; como não venderam, mandou fechar a saída do jornal pela Barão de Campinas para tentar boicotar, sem sucesso, a enorme presença de seus funcionários. Figuras inesquecíveis no 308: os sócios Pinho e Augusto e o garçom Campos.
O Miranda foi minha segunda casa. Era Miranda quando eu comecei na Folha, em 1977, mas virou depois Bar do Mané, Bar do Luiz ou Bar do Juvenal, que eram os três sócios do, na verdade, Bar e Lanches Para Você. Foi lá que eu mais cultivei o saudável hábito de marcar a conta num caderninho e pagar no final do mês. Foi lá que fiz minha despedida de solteiro – com a presença da noiva, claro – em 1983. Mesmo longe da Folha, mantive minha fidelidade ao Miranda. Fiquei estarrecido quando, ao voltar do Japão, em 1997, vi que o bar tinha sido transformado num estacionamento. Figuras inesquecíveis: além dos sócios, os balconistas Zé Bigode e Grilo e o chapeiro Daniel.
O Mutamba fez parte de uma outra fase de minha vida profissional, quando trabalhei no Diário Popular (o Estadão mudara-se há muito para a Marginal do Tietê). Foi por pouco tempo, em 1991, mas qualquer bar frequentado por mais de seis meses torna-se inesquecível. Não sei se o Mutamba – árvore da família das tiliáceas; ganhei duas cervejas por descobrir isso e dar a ideia de colocar a definição num quadro – sobrevive. Figuras inolvidáveis: os sócios Licínio e Licininho (pai e filho) e o garçom Luiz, apelidado de Pé na Cova, que, por ter mania de balbuciar alguma coisa em inglês, eu apelidei de Foot in Grave.
Boteco também é história.
(Na imagem, o Miranda ficava onde, no círculo vermelho, está hoje o estacionamento)
Oi Zanfra… nos meus tempos de Folha, frequentei muito o Sujinho, bar que ficava em frente à Folha na Barão de Limeira. Tinha lá o melhor pudim de leite deste e de outros planetas.
E qual deles não era ‘sujinho’?
Foi nesse bar que tomei o maior porre de gin tônica de minha vida. Estávamos eu, o Celsinho Sávio e o Ademir Barbosa, bebendo e jogando sinuca. Cai na escada e eles me levaram para o pronto socorro da Barra Funda. Nunca mais tomei gin