Algumas árvores se destacam pela altura. Esticam o pescoço em direção ao céu, se esgueiram entre outros galhos como em uma corrida de resistência em busca de um raio de sol.
Outras resplandecem pelo tamanho das copas, uma espécie de cartola de mágico que vai flutuando ao toque de uma varinha de fadas, ganhando espaço e acotovelando quem está do lado, para reinar nesse pedaço de universo.
Elas cantam e dançam durante vendavais e chuvas. Assobiam ao toque de uma leve brisa, balançam e se sacodem sob ventos fortes.
Tomam conta do caminho, na rua Admeleto Gasparini, no bairro de Itaóca, em Guararema. Uma rua que mais parece uma avenida ou estrada, diante de seus seis quilômetros.
Mas, é num trecho sinuoso e cheio de altos e baixos que essas árvores imperam e onde vivem fadas e duendes.
De um lado, o curvilíneo rio Paraíba do Sul, escondido atrás das árvores de sua margem, que atravessa a pacata cidade e deságua no Rio de Janeiro. Do outro lado da estrada, a floresta das árvores mágicas. Com suas Resedás, Ipês, Manacás, Quaresmeiras, Sibipirunas e Pinheiros.
O caminho, igualmente surpreendente, prega peças nos desavisados, inocentes joguetes nas peripécias imaginárias da natureza espirituosa, das fadas e duendes invisíveis aos incrédulos.
Na metade da rua, avenida ou estrada que se move, como um tapete de borracha ou uma ponte de madeira tremulante sobre uma ravina, as próprias casas começam a se moldar ao esquisito trecho especial e preparar o olhar dos visionários caminhantes. Algumas moradias pintam o muro de verde. Outras, plantam trepadeiras simulando vegetação nativa, atraindo o clima da floresta viva.
Na primeira curva, uma subida íngreme desvenda as primeiras árvores. O verde cheio de nuances e brilhos, que foi se impondo no horizonte, abraça o céu acima de nossas cabeças, espremendo as nuvens e afunilando a estrada movediça abaixo, ao seu bel prazer.
À medida que o caminhante inicia a subida, as árvores se agacham, dançam e zombam dos olhares perplexos diante da magia verde.
Ilusão de ótica? Talvez. Mas, como disse o famoso escritor russo Leon Tolstoi, “Há quem passe pela floresta e só veja lenha para sua fogueira”.
E a brincadeira ilusória continua.
A estrada movediça, espremida pelas árvores dos dois lados, começa a se movimentar como um dragão chinês, empurrando as árvores e abrindo caminho para o caminhante, desconfiado, visualizar a continuidade do asfalto.
Vencida a subida, uma longa descida se descortina, terminando num funil do piso negro sufocado pelas folhagens.
O caminho é mais tranquilo na descida. O caminhante faz menos esforço. Se regozija aliviado com a possibilidade de relaxar. Acima, as árvores que se agacharam na subida, agora esticam seus pescoços até se perderem de vista. A cada passo ladeira abaixo, as árvores sobem proporcionalmente, balançando a cabeça ou seus galhos.
Abaixo, o asfalto continua abrindo caminho a duras penas e se desvencilhando das folhagens que o envolvem num apertado abraço.
Caminhando e dançando, a estrada movediça segue seu curso cheio de curvas, subidas e descidas até chegar ao buraco da onça, na esquina da rua Sílvio Usier, uma outra lenda de Guararema e tema para uma próxima conversa.
No final da história, toda floresta é mágica, apenas por existir.
Parabéns, Nereu! Belo texto!
“Toda floresta é mágica”
Lindo o texto. Como é bom poder apreciar a natureza e seus seres. A imaginação flutua!
Adorei!
um beijo