Finalmente!!!

A princípio, pensava que tudo passaria, rapidamente, como a Influenza… De março a setembro de 2020, evitei ao máximo sair de casa e até receber a diarista. Paguei para ela não vir limpar a casa, mesmo depois que teve a Covid-19. Quando voltou a trabalhar, eu mantinha o distanciamento e desinfetava com álcool 70% tudo que poderia ser tocado.

Em setembro, mesmo apavorada, me arrisquei a pegar um avião até São Paulo para ver meu filho. Ele mora na Bélgica e, mesmo em meio à pandemia, conseguiu viajar ao Brasil. Comprei até um face shield! No desembarque, dei-lhe um banho de álcool, inclusive na mala. Claro que, com 27 anos, ficou muito bravo e envergonhado. Eu, com 65, não estava nem aí: só pensava em proteger todos nós!

Minha mãe, aos 92 anos, nos recebeu apenas uma vez, na área de lazer do prédio onde mora. Todos de máscara e bem distantes um do outro. E com os frascos de álcool 70%, líquido e em gel, nas mãos. Meu Deus!!! Que vontade de abraçar, beijar, comemorar a vida dela e a de todos nós!!! Sem chance.

Ficamos, durante 10 dias, cinco adultos e cinco gatos, presos num pequeno apartamento. Liguei o “não estou nem aí; o importante é curtir a companhia dos meus filhos, nora e genro”! Claro que, ao voltar para o Tocantins, permaneci 15 dias, trancada e isolada, observando cada sintoma e querendo saber sobre meus entes queridos! Todos ficaram bem, mesmo com a nossa falta de distanciamento, naqueles dias que passamos juntos. 

Em janeiro, finalmente, a primeira aplicação da tão esperada vacina. Aquela que, segundo o genocida do Poder Central, nos transformaria em jacarés. Meu novo sonho de consumo: virar jacaré!!!!

Nem queiram saber o escarcéu que fiz quando chegou a vez da minha mãe ser imunizada! Teria soltado rojões, se meus pets não ficassem apavorados. Em respeito a eles e aos pets dos vizinhos, restringi meus arroubos a gritos – muitos gritos -, dentro de casa!

Em janeiro, meu filho, de novo, foi a São Paulo. Um dia depois, a Bélgica proibiu viagens para o Brasil. Ele combinou com a empresa onde trabalha que, caso não conseguisse voltar, faria o serviço remotamente. Já casado no civil e com a festa cancelada, só voltou dois meses depois, quando minha nora também pode viajar (por enquanto, como turista). Fizeram um malabarismo: desembarcaram em Paris, que ainda recebia brasileiros, e seguiram de trem para Bruxelas. Fiquei quase 24 horas, acompanhando o voo, o trem, as mensagens pelo WhatsApp, e, finalmente, a chegada deles, em casa. Ufa!!!!

Conforme a vacinação avançava, minha ansiedade aumentava. Cada parente, amigo, conhecido, imunizado, era motivo de felicidade e de alívio. E de expectativa…   

Em 14 de abril, a Prefeitura de Palmas (TO), me avisou, pelo Twitter, que, no dia seguinte, seria a minha vez. Sim, aqui a Prefeitura é atenciosa e responde às perguntas, até nas redes sociais. E eu havia questionado sobre a data, dias antes.

Levantei-me às 4 da madrugada! Da minha casa até o drive thru, que abriria às 8 horas, seriam, no máximo, dez minutos. Não queria me atrasar nem correr o risco de ficar horas, na fila, e não receber a vacina, nem esperar para agendar nos Postos de Saúde da Família. Ainda não temos o programa de doação de alimentos, no momento da vacinação. Então, resolvi alimentar o pessoal que estava trabalhando. Passei no supermercado, comprei bolos e pão de queijo e levei para eles. 

Já sabia que receberia a CoronaVac. Treinei a dancinha do Bum Bum Tam Tam, coloquei a roupa que mais gosto – bordada com uma frase que minha avó escreveu para mim, num poema -, peguei uma amiga que se propôs a fotografar e filmar (as duas mascaradas e distantes) e lá fui eu, pronta para virar jacaré!

Uma hora de espera. Um “tempim” de nada, como se diz aqui, se comparado aos 13 meses, desde que me isolei em casa… 

Quando chegou minha vez, só consegui entregar os pacotes para o pessoal da vacinação e chorar. Sim, chorei muito!!! Era felicidade, alívio, tudo misturado. Como se tivesse ganho, sozinha, a Mega da Virada! 

Ao chegar em casa, comecei a pensar que nunca demos importância a vacinas, a quem as pesquisava e fabricava, aos servidores públicos que trabalham para aplicá-las e ao SUS, o Sistema Único de Saúde, tão importante e desvalorizado, mesmo mostrando, há mais de um quarto de século, que é imprescindível para os brasileiros!

Sempre fui vacinar e levei meus dois filhos, desde pequenos. Parecia algo corriqueiro, sem nenhuma importância. 

O reforço da febre amarela, tive de tomar em São Paulo, pois não havia doses suficientes em Palmas. A dT (vacina dupla bacteriana), recebi a picada em dezembro, e a da Influenza, em maio ou junho, como faço há 15 anos. Sigo à risca as datas da carteira de vacinação, porque tive paralisia infantil. Minha mãe me levou para tomar a Sabin, apesar de eu estar febril. Como resultado, tenho uma única sequela: uma perna um centímetro menor que a outra. Ninguém nem percebe. Seria bem pior, se não fosse a vacina…

Só depois de receber a primeira dose da CoronaVac (a segunda, será em maio), percebi que nunca demos valor ao básico. A comida na mesa, os amigos, as pessoas que trabalham para garantir nossa segurança e saúde, os que coletam o lixo, os que varrem as ruas, os atendentes da farmácia, do supermercado, da panificadora, os que limpam nossa casa e… as vacinas!

Agora, sei que o Butantan, além do soro antiofídico, produz a maior parte das vacinas que os brasileiros tomam, de graça, nos serviços públicos de Saúde. Sei que nossos impostos sustentam o SUS, mas nem todos pagam impostos (parte dos ricos, aliás, é especialista em sonegar e, também, toma vacinas gratuitas…).

Quando chegar a sua vez de ser imunizado contra a Covid-19 – espero que logo -, seja grato a todos que tornaram isso possível! Um simples “obrigado”, um lanche para os que estão trabalhando, um sorriso, um alimento para doar aos mais necessitados, um post nas redes sociais, qualquer coisa vale. Só não vale ficar de cara feia, reclamando da demora, achando que não vai adiantar se imunizar. Não pensem nem reajam como o genocida!!! Por favor, valorizem o fato de serem privilegiados e estarem vacinando, quando há milhões, em todo o mundo, ainda na fila de espera. 

Vou terminar com uma frase que se tornou lugar comum, nos tempos atuais: A VACINA SALVA VIDAS!!! 

Vacina para todos, é o que mais desejo, atualmente…

Célia Bretas Tahan

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