Fé demais não cheira bem

Fé é uma coisa que a gente tem. Ou não. Não é algo que se possa comprar. Não tem em prateleira de supermercado. Não está no catálogo da Amazon. Existe, é certo, o chamado ‘despertar da fé’, mas é uma epifania que pode surgir a partir de fatores variados que não estão ao nosso alcance. Nunca – que fique bem claro – acontece quando se é despertado às sete horas da manhã de domingo por um grupo de testemunhas de Jeová.

O problema é que alguns – muitos, aliás – têm excesso de fé. E fé das boas. Por isso, são vítimas das pessoas que têm fé das más, também conhecida como má-fé. As pessoas de má-fé usam e abusam das pessoas de boa-fé. E isso não acontece apenas em golpes de bilhete premiado, ou outros trambiques via internet. Acontece também quando a boa-fé transcende o mundo real, palpável.

Estou falando da fé religiosa. As pessoas têm fé na salvação. Têm fé numa vida mais digna e justa. E graças a isso concedem uma vida indigna e injusta – mas nem por isso pobre financeiramente – aos exploradores de sua fé, aos religiosos de má-fé.

Quando você poderia comprar um perfume igual ao que Cristo usava? Quando você conseguiria decorar a sala de sua casa com um pedaço da madeira que foi resgatado da Arca de Noé? Quando uma esponja de aço ‘ungida’ vai te ajudar a limpar da panela a sujeira que nada mais é do que o demônio em forma de gordura ressecada? Acredite: as pessoas de boa-fé creem que podem conseguir essas glórias; e as pessoas de má-fé enriquecem por meio delas, mas sempre em nome de Jesus!

Karl Marx disse que a religião é o ópio do povo, no sentido de um lenitivo para as dores mundanas. Que bom seria se fosse apenas isso. Hoje, na realidade, a religião é o expurgo do povo. Mesmo quem nada tem separa um décimo disso para enriquecer os pastores. Tudo em nome de uma fé ignorante, submissa e ingênua. Parece brincadeira, mas elas acreditam que seu dinheirinho suado está sendo depositado no banco da Eternidade, como uma poupança para o fim dos tempos.

Bom mesmo seria se a fé se limitasse àquela nossa de fazer um joguinho simples, de seis dezenas, e sonhar em ser o único, entre 50.063.860 apostadores, a acertar a mega sena.

Marco Antonio Zanfra

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