E se eu não tivesse largado o Direito?

Terminei a faculdade de Jornalismo no meio do ano, em 1977. No final do ano, prestei a Fuvest para Direito e fui aprovado na USP. Em 1978, já trabalhando como repórter de polícia na Folha, comecei o curso na São Francisco. Passei por trote, cortaram meu cabelo, e o chefe de reportagem José Flávio Ferreira passou a me chamar de ‘Gafanhoto’, em alusão ao seriado de tevê ‘Kung Fu’.

Fiz o primeiro semestre assistindo às quatro primeiras aulas e terminando o período na cantina do Centro Acadêmico 11 de Agosto, tomando cerveja. Fechei o semestre com 9,0 em Direito Civil e 7,0 em Direito Romano. Cumpri o segundo semestre até dar o ‘pindura’ no restaurante Eduardo da Nestor Pestana, e abandonei o curso. Não havia trancamento de matrícula no primeiro ano, e eu então simplesmente fui embora.

Mas e se eu tivesse continuado?

Dizem que nossa vida é um grande jardim onde estão plantados muitos pés de ‘se’. Quando a gente resolve alguma coisa, as plantinhas se agitam para mostrar que poderíamos ter tomado outro caminho. Nesse caso de abandonar o curso, demorei muito para dar bola para o jardim. Quando vi o pé de ‘se’, lamentei o que fiz. Mas era tarde. Muito tarde.

Acho que meu principal erro foi não ter escolhido fazer o curso no período matutino. Ia para a faculdade cansado, e a noite me convidava a beber. Se estudasse de manhã, iria para as aulas descansado e sem vontade de ir para o bar. Mas, se pensar melhor, talvez meu problema tenha sido simplesmente preguiça de estudar. Uns nasceram para a cátedra; eu, não!

Se não tivesse desistido, estaria formado em 1982. Não seria advogado para causas particulares, com certeza. Não conseguiria cobrar de um pobre. Não suportaria defender um rico que me pagasse contra um pobre sem condições de pagar. Mas me restava a advocacia corporativa ou mesmo o Judiciário. Juiz ou promotor, por que não?

Poucos anos depois de abandonar a São Francisco, descobri um ex-colega, Antônio Carlos de Moraes Pucci, atuando como juiz em Avaré. Agora, coisa de um ano atrás, descobri outro colega, Carlos Vico Mañas, como desembargador, pelo quinto constitucional, do TJ de São Paulo. Eles, certamente, estão bem melhor que eu, que me dediquei apenas ao jornalismo. Minha aposentadoria hoje não deve ser maior do que um dos penduricalhos deles!

Se eu, como Antônio Carlos, tivesse entrado na magistratura em 1986, onde estaria hoje? Poderia ter ingressado na política. Poderia ser ministro de um tribunal superior. Poderia até estar no STF, já que só Fux, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes têm idade para me fazer frente. Poderia ser tanta coisa! Mas hoje só posso imaginar. E escrever. Ainda bem que isso, pelo menos, eu consegui preservar!

Marco Antonio Zanfra

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *