É o Pelé, é o Pelé…

Com a morte de Pelé, lembrei-me de que tinha escrito em meu antigo blog – o Fala, Zanfra! – uma crônica sobre um assalto que Edson Arantes do Nascimento sofreu, há muitos anos. A crônica, reproduzida abaixo, foi publicada em 23 de junho de 2008:

A versão que circula pelos jornais é que, ao ver seu Zafira cercado por uma dezena de adolescentes armados e prestes a assaltá-lo, ele baixou o vidro para mostrar quem viajava no veículo, numa tentativa de quem sabe, evitar o roubo.


É o Pelé, é o Pelé! ele teria dito – daquele jeito, entende?


O fato de ser quem é, no entanto, não inibiu o arrastão. E o cidadão Edson Arantes do Nascimento ficou sem o celular, uma corrente de ouro e um relógio. O mito Pelé nada sofreu, a não ser a frustração de descobrir que sua condição de ícone não o imunizava contra a violência urbana.


Até dá para entender a tentativa de Pelé. Como ídolo – ou, mais que isso, uma instituição nacional – ele acreditou que aplacaria o animus furandi do grupo, simplesmente porque as lendas estão acima do bem e do mal. Ou pelo menos estavam, até bem pouco tempo atrás. Assalto é para gente comum, ele acreditava. Principalmente no meio daquele grupo de jovens – que deve bater uma bolinha, entre um arrastão e outro – a figura de Pelé estaria entre os intocáveis.


Não estava, entretanto, segundo a opinião dos adolescentes. Ao contrário, quem acabou sendo beneficiado com a proximidade do ídolo foi justamente a gente comum, o motorista de Pelé, que teve seus objetos restituídos quando os ladrões descobriram quem ele estava transportando. Inversão de valores?


Não sei se é motivo de preocupação descobrir que até os ícones estão dançando miudinho nas mãos da marginalidade – ou se, enfim, isso era apenas uma questão de tempo. Afinal, acima (ou abaixo) da figura pública há um ser humano mortal como qualquer outro, permeável a gripes, dores de barriga e unhas encravadas. E, portanto, acessível também a males urbanos como assaltos, sequestros e acidentes de trânsito.


É claro que soa um pouco estranho saber que os rapazes que assaltaram Edson Arantes do Nascimento não deram a mínima ao Pelé, que também estava no carro, mas parece que, no ramo do banditismo, o culto à celebridade é algo que está tendendo a desaparecer. Não levaram o Rolex do Luciano Huck não faz muito tempo? Pois, do jeito que as coisas estão caminhando, o Papa que reforce sua segurança na próxima visita ao Brasil, porque é capaz de sobrar para ele.

E outra: já não sequestraram um dos filhos do Maurício de Souza? Pois logo, logo nem a Mônica e o Cebolinha estarão a salvo!

Marco Antonio Zanfra

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