Sou neta de uma mulher forte e corajosa, que morreu com 96 anos, ainda escrevendo versos e fazendo doces em grandes tachos de cobre.

Minha mãe não fica atrás: com 96, faz questão de cozinhar, lê muito, escreve cartas, vai ao cabeleireiro, ao Correio e ao supermercado e só conta com uma cuidadora, duas vezes por semana, para andar com ela na rua. Mal usa a bengala, preferindo apoiar no braço da Vitória, enquanto caminha. 

Diz que vai suplantar a Dona Canô (mãe do Caetano e da Bethânia) e o Oscar Niemeyer (arquiteto que projetou os edifícios mais importantes de Brasília e muitos outros, no mundo todo). Dona Canô e Niemayer morreram em dezembro de 2012, com 105 anos.

Para seguir a tradição das mulheres da família, aos 70 anos, eu deveria estar me sentindo com todo o vigor, ativa, produzindo algo (nem que fosse um tacho de doces), principalmente por não ter nenhuma doença típica da idade, além de uma osteoporose que me obriga a tomar muito cuidado, especialmente com a coluna.

Mas… Sempre tem um “mas”…

Confesso que estou mais para uma idosa improdutiva, lendo livros de ficção e assistindo seriados na televisão e noticiários que me irritam e desanimam. 

Vejo jornalista sem nenhum preparo a comentar fatos, baseado em achismo e em fontes não identificadas ou no “mercado”. Há, ainda, os que transmitem “notícias” das redes sociais, sem apuração nem lógica, com conotação política do patrão.

Caramba! Sou daqueles jornalistas de antes da internet que buscavam notícias nas ruas, nos gabinetes, entrevistando pessoas reais, checando tudo, antes de falar ou de escrever

Para começar, não podia citar fontes “anônimas”. E o “mercado” não era uma pessoa que falava, era só um setor e, necessariamente, precisava ter alguém de peso que se pronunciasse em seu nome.

Os releases até podiam ser usados, desde que as informações fossem verificadas e complementadas. Hoje, tem jornalista que os copia na íntegra e – pior – assina a matéria como se o tivesse produzido. Um horror! 

Para opinar, os patrões tinham os editoriais. Claro que, de vez em quando, davam pitacos nas matérias e cabia aos editores mudar ou não os textos, de acordo com a vontade de quem pagava os salários. 

Vejo a mídia escolher candidatos a cargos públicos e levantar a bola deles, descaradamente! E conseguem convencer leitores ou espectadores que são “imparciais”. Imparciais? Só se for naquele orifício traseiro, quando estão sóbrios; nos bêbados, o orifício não tem dono. 

Todos os dias, vejo que não vale a pena viver neste mundo de mentiras e enganações, onde prevalece o ódio!

Ainda bem que minha avó não tinha internet e minha mãe, quando muito, abre e responde e-mails! Não à toa, dona Cora aproveitou bem seus 96 anos e dona Vicência vai passar dos 105, feliz e consciente da realidade, mas sem deixar que nada a desanime! 

Célia Bretas Tahan

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