Caro Noel

Olá, Noel… tudo em riba?

Quanto tempo, hein… seu velho sacana! Desculpe tratá-lo com essa intimidade, mas já devo estar com a sua idade e com o saco na lua. Portanto, sem estresse. Mesmo porque não tem mais cabimento começar esta carta com “Querido Papai Noel”, como eu fazia quando era um simples garotinho lembra? Hein?

Lembra nada, seu… seu… traíra de uma figa! Nem me recordo de quando foi a última carta que eu escrevi pra você. Mas me lembro que foi aquela em que eu pedi um Autorama e você me mandou um caminhãozinho de plástico muito do fajuto! Tinha até a etiqueta da lojinha do “seu” Michel. Claro, minha mãe que comprou pra mim, acho que juntando os últimos trocados, e botou debaixo da minha cama dizendo que tinha sido você. Olhei para aquele caminhãozinho como o Bolsonaro olharia o Dória!

Fiquei mais puto ainda quando vi que o Juarez, filho do dono da farmácia, tinha ganhado um Autorama. Como eu odiei você, Noel, por ter errado de endereço. Ou você ou aquelas renas idiotas que puxam a sua carroça. Não venha me dizer que você não recebia minhas cartas, porque vai ser uma mentira da grossa. Todos os anos eu esperava o carteiro passar na minha rua e entregava a carta pra ele levar pra você. E ele, sempre com um sorriso besta, me garantia que seria entregue. Outro mentiroso, que Deus o tenha!

Aliás, já perdi a conta de quantas cartinhas escrevi e você nunca… nunca me atendeu! Quando eu via aqueles caras nas lojas da Silva Bueno imitando você, minha vontade era a de chutar a bunda deles e sair correndo. Uns raquíticos, sem barriga, com uma barba mambembe presa por um elástico aparecendo atrás da orelha. Até hoje eu vejo umas figuras assim. Outro dia vi um lá na Getúlio Vargas, aqui em Porto Seguro. Em vez de botas, o cara estava com um All Star azul e, em vez de gorro, usava um boné da Adidas. Faça-me o favor, Noel, você deveria ter mais controle de qualidade com esses caras que te representam!

Mas, vamos deixar de lado os “entretantos” e vamos direto para os “finalmentes”, como diria Odorico Paraguaçu. Seguinte, Noel… eu tinha jurado nunca mais escrever pra você. Mas resolvi lhe dar mais uma chance. Porque eu sempre acreditei em você. Sei lá… eu sou assim mesmo! Sei que você deve estar ocupado separando os presentes dos seus “escolhidos”, como o Juarez, que Deus também o tenha! Mas vamos lá…

Não quero nenhum presente, porque sei que você vai me sacanear de novo! Quero coisas que não precisam ser embrulhadas em papeis coloridos. Precisam apenas da sua boa vontade. Como muito dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender para todos os meus amigos e parentes. Todos… entendeu Noel? Todos! Não vá esquecer nenhum, porque você pra esquecer… óxi! É mentira?  Se for, pode me atirar a primeira castanha ou, se preferir, me passe a coxa do peru. (Já li isso em algum lugar!)

Aurélio de Oliveira

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