Se eu o chamo pelo nome, ele sabe que estou falando com ele. Se eu falo “vamos almoçar, Fred?”, ele corre para a porta da varanda, ansioso, porque é de lá que vem o prato de ração. Se eu o instigo com “cadê a bolinha, Fred?”, ele sai feito um doido a procurar a dita cuja. Se eu pergunto “quem chegou?”, ele interrompe o que estiver fazendo e corre a olhar na direção do portão, para, quem sabe, esclarecer minha dúvida e informar quem chegou.
Isso significa que ele é um cachorro muito inteligente?
Parece que não, necessariamente. Se comparar com o desempenho da cadela Gaia, uma border collie de um casal brasileiro que mora em Londres, o grau de inteligência do meu labrador seria pouca coisa maior do que o de um bichinho de pelúcia: Gaia, de seis anos, tem mais de duzentos brinquedos em casa e, segundo a BBC News, sabe o nome de cada um deles. Basta pedir-lhe que ela procura, acha e mostra o brinquedo pedido. Para os pesquisadores, ela é gifted word learner dog, ou cachorro com talento para aprender palavras.
Fico imaginando: se você perguntar “cadê a bolinha, Gaia?”, o que será que ela é capaz de fazer? Quantas bolinhas deve ter no meio de seus mais de duzentos brinquedos. Se você quiser saber onde está a bolinha, qualquer uma de seu rol de bolinhas, ela deve pedir, em pensamento – porque, apesar de toda sua inteligência, ela ainda não fala: ‘seja mais específico, please!’.
A matéria da BBC News indica que Gaia faz parte de um seleto grupo de cães considerados gênios pelos cientistas. Apenas quarenta e um cães no mundo têm esse talento excepcional para aprender nomes de objetos. E essa habilidade não é algo que se consegue através de adestramento: é um dom natural, que se desenvolve com a capacidade de aprendizado do animal. Exemplo dessa capacidade é que, com um ano de idade, Gaia sabia o nome de apenas três brinquedos.
Segundo estudiosos de uma universidade húngara, a capacidade de aprender palavras não é algo que possa ser ensinado aos cães. É algo espontâneo. Eles fizeram uma experiência com trinta e quatro animais, passaram dois meses brincando com eles e tentando ensinar os nomes dos objetos, mas apenas um deles, ao final, aprendeu a identificar cada um dos brinquedos.
Os especialistas consideram que um cão que consiga identificar pelo nome três ou quatro objetos já pode ser considerado superdotado. Como o Fred só consegue identificar a bolinha – os outros três exemplos que citei no primeiro parágrafo são práticas comportamentais – creio que a definição de sua inteligência como ‘pouca coisa maior do que a de um bichinho de pelúcia’ continua sendo a mais próxima da realidade.