Cada um por si. E Deus por todos

Ao ler na Folha, dia desses, matéria com o título ‘Cientistas encontram explicações sobre por que vacinas funcionam menos em idosos’, tive duas reações bastante díspares.

Uma delas: a inquietação comum a quem está no rol das pessoas em quem as vacinas são menos eficientes.

A outra: se as vacinas funcionam menos com os que são ‘prioritários’ em qualquer campanha de vacinação, por que diabos gastá-las com quem já está no bico do corvo? Por que correr o risco de utilizar a maior parte da cota de imunizantes com os velhos e deixar sem prevenção a grande faixa da população que estará mais propícia a fazer bom uso dela?

Tá bom, tá bom, não se irritem, é claro que estou brincando! É claro que nós idosos merecemos ser beneficiados com qualquer possibilidade, por remota que seja, de não sucumbir a uma doença cuja incidência possa ser evitada. Mas a primeira reação é válida: por que as vacinas são menos eficientes em quem justamente carece de mais reforço em sua imunidade?

Eu já achava estranho que a vacina contra a dengue era aplicada apenas em pessoas até 59 anos – e as gotinhas da Sabin apenas em boquinhas ainda coroadas somente por dentes de leite – mas e quanto aos idosos? Se vierem a dengue e a poliomielite, o problema é de vocês? Virem-se? A essa altura da vida, é cada um por si? E Deus por todos? Excetuando-se desta ajuda extra os que forem ateus?

A pesquisa não trata da dengue ou da pólio, mas exclusivamente da gripe. Diz a matéria:

Os pesquisadores observaram que as células T apresentaram mudanças genéticas entre aqueles com cerca de 65 anos ou mais que prejudicam a capacidade de resposta destas células frente a patógenos. Isso, por consequência, também impacta a produção de anticorpos pelas células B. Os pesquisadores observaram que esse cenário também ocorre frente à vacinação. Imunizantes contam com antígenos, substâncias que estimulam o sistema imune a produzir a resposta contra patógenos. É a partir desse reconhecimento dos antígenos que a imunidade é estabelecida. 

A conclusão do estudo é que a mudança genética vista nas células T em pessoas mais velhas leva a uma deficiência no reconhecimento dos antígenos. Essa incapacidade representa um problema no fluxo de ações necessárias para gerar a resposta imune a partir de vacinas.

O estudo indica que o efeito idade deve ser observado no fabrico de vacinas, e essa conclusão não é algo novo. A vulnerabilidade dos idosos em relação às doenças e a incapacidade da vacinação de acabar com os riscos é dado conhecido. Isso quer dizer que não é por falta de informação que nossa deficiência imunológica não é atenuada. Saber eles sabem. Fazer algo para corrigir isso é outra história.

Marco Antonio Zanfra

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