Vendo notícias de casos de assédio sexual que, depois de 30, 40 anos, vem à tona, lembrei que eles sempre existiram. Mas não havia lei que protegesse as mulheres. Daí, ficavam impunes. Nem tanto…
Nunca fui boazinha nem chorei, por causa de assediadores. Desde jovem, andava com um alfinete (daqueles usados para prender fralda de pano de bebês), para espetar uns tarados que tentavam se encostar demais em mim, no ônibus. Precisavam só ver o tamanho do pulo que davam!!!
Na rua, cheguei a romper a alça de uma bolsa a tiracolo, para bater num cara que tentou passar a mão no meu corpo.
Outro dia, veio à memória, especificamente, um caso que muito me marcou. Com ele, aprendi que a melhor defesa é mesmo o ataque… físico!
Comecei a carreira jornalística na revisão da Folha de S.Paulo e, meses depois, fui para a redação da Folha da Tarde. No fim da década de 70, num ambiente de trabalho estritamente masculino, era a mulher mais nova. Nem tinha terminado a faculdade ainda.
Levava muitas cantadas e sempre encarei numa boa, sem estresse, respondendo à altura e afastando os mais chatos. Só que nada me preparou para o que aconteceu numa noite de festa. Nem lembro o que estávamos comemorando, já que, lá, sempre havia algum motivo especial para bebermos juntos, depois do fechamento do dia.
Num determinado momento, fui ao banheiro, que ficava num corredor, fora da redação. Estava tranquila, num dos boxes, com a porta encostada, quando alguém forçou a entrada. Assustada, mal tive tempo de vestir a calcinha, antes que um dos diagramadores da FT invadisse o box onde eu estava.
Não tive nenhuma dúvida: dei um murro, com toda a força, na cara do sujeito! Os óculos que ele usava quebraram e as lentes o cortaram no rosto.
Saí correndo e entrei na redação, desesperada, fugindo do maníaco. A secretária do editor-chefe, Maria Zélia, ao me ver, correu para saber o que tinha ocorrido. Contei a ela, enquanto o diagramador ia embora, disfarçadamente, pela lateral da redação.
No dia seguinte, nem queria ir trabalhar. Só que nunca fui de faltar no serviço nem de fugir de situações constrangedoras. Então, fui. Ao chegar, o editor-chefe me chamou, para perguntar se eu queria que mandasse o diagramador embora.
(Hoje em dia, a pergunta nem seria feita, mas era antes de 1980…)
O moço que me atacou tinha esposa. E ela estava grávida do terceiro filho. Claro que tudo isso me passou pela cabeça, antes de responder. Não achei que a família deveria ser punida.
“Não, não quero que o demita. Só quero que o mantenha bem longe de mim e da minha linha de visão. Não quero nem ver a cara dele.”
A editoria onde eu trabalhava era ao lado da diagramação, separada por vidros transparentes, como um aquário. A solução foi colocarem a mesa dele atrás de uma das muitas e largas colunas que havia no prédio da empresa. Só tive de olhar para a cara da figura outra vez anos depois, na redação do Diário Popular, onde não fiquei tempo suficiente para lhe dar outro murro!
Só agora me questiono: será que tem a ver com o murro que dei no diagramador o fato de dizerem, na FT, que eu era “chave de cadeia ou de porta de necrotério”??? Sei, não…
Não sabia que ele tinha trabalhado no Dipo. Nem que você tinha trabalhado, aliás!