Nunca fui hipocondríaco! Tenho até um certo desconforto quando sou obrigado a tomar algum medicamento! Não gosto de químicas em meu corpo, que na maioria das vezes consegue reagir autonomamente aos males comuns! Quando tive pedra no rim, era pedra no rim mesmo! Quando tive fratura exposta no úmero direito, não tinha como negar que o osso estava quebrado!
Mas, a partir de certa idade, passei a sentir que a saúde era uma coisa mais séria. Comecei a pensar que a velhice era meio caminho para o fim da imunidade e, mesmo não totalmente, me vi temendo virar um receptáculo de todos os males do mundo.
Não sei se acontece só comigo, ou se essa prática é comum aos idosos em geral, mas não posso ver matéria sobre doenças em jornal que saio a verificar se não tenho algum sintoma da doença que o texto aponta. Mesmo que seja uma doença autoimune ou dessas consideradas raras.
Isso já trouxe um bom resultado: descobri após fazer uma colonoscopia, que nunca havia feito, que um tumor restrito a um pólipo no intestino estaria prestes a derramar-se e contaminar todo o cólon. Só fiz o exame após constatar que alguns dos sintomas de um câncer colorretal poderiam estar se manifestando em mim. O que prova que minha preocupação um tanto exagerada com os sintomas em geral não chega a ser inútil.
Mas outro dia cheguei a ficar preocupado. Mais surpreso do que preocupado: é que apresento dez entre quatorze sintomas de um mal que não chega a ser uma doença, mas uma condição. Alguns desses sintomas se apresentam de maneira leve, mas outros são claros e definitivos.
Vejamos: não gosto de receber visitas (a não ser de pessoas muito queridas); prefiro ficar em casa a sair (sempre); sinto nervosismo para conversar com alguém (gaguejo, na maioria das vezes); não faço ou atendo ligações (tenho aversão a telefone); não gosto de mudar a rotina (sou uma pessoa basicamente metódica); tenho dificuldade para mudar de ideia (algumas pessoas chamam isso de teimosia); prefiro trabalhar sozinho (confio mais em mim que nos outros); fico incomodado com barulhos (e quem não fica?); evito lugares agitados e cheios (só aguentava essas situações quando estava bêbado); fico irritado sem motivo aparente (sem motivo aparente para os outros, para mim são claros).
Se o leitor não associou esses itens a uma condição anômala de comportamento, esclareço que esses sintomas são relacionados ao transtorno do espectro autista em adultos, o que deixa alguém que está a alguns meses de completar setenta anos sentindo-se deslocado no tempo e no espaço. Como pode alguém demorar tanto tempo para definir-se como portador de um distúrbio tão em moda hoje em dia?
Minha filha Mayara me tranquilizou, entretanto: disse que meu comportamento arredio é uma condição geracional, que nos acomete com o transcorrer da idade. O que me deixou entre dois polos, ainda sem uma conclusão: ou sou autista, ou sou apenas um velho ranzinza!
Parece que você estava me descrevendo!
Tenho todos aqueles sintomas 😬
É de família!
Diria que você está mais para velho rabugento, aliás, que não é nenhum privilégio seu. Também padeço um tanto de rabugice