O nosso colega de blog, jornalista e escritor Marco Antonio Zanfra, é o inspirador deste meu texto post mortem. Em primeiro lugar, não sou ateu; exceto por um Padre Nosso aqui, um Johrei ali, um passe acolá, não prático nenhuma religião. Fui educado por pais extremamente católicos, estudei em seminário de padres, no entanto, confesso que tenho sérias dúvidas sobre o “outro lado da vida”.
Aprendi desde o catecismo que, ao soar das trombetas do Juízo Final, todos ressuscitaremos, com nossos belos (ou não tão belos assim) corpos, e iremos prestar contas de nossas ações junto ao Criador. Olha que não estou falando de meia dúzia, 100, 200 mil, pelos meus cálculos, serão bilhões de pessoas, enfileiradinhas, ali a esperar sua vez. Evidentemente, os sistemas de aferição deles devem ultrapassar em tudo o que até agora conhecemos, mas, mesmo assim, vai demorar no mínimo um século para acabar esse julgamento. A minha capivara já é meio longa, mas as de uns e outros aí devem ser ilimitadas.
Claro que nunca embarquei nessa história. Pelo que aprendi com budistas, messiânicos, kardecistas, nascemos, crescemos, morremos e retornamos pra cá. Só nosso espírito reencarnado, pois essa carcaça virará cinza ou alimentará os micróbios. Interessante, porém, continuo com minhas indagações e divagações. Uma vez, anos atrás, tive até um sonho com essa tal de reencarnação.
Minha primeira mulher ainda era viva, viajamos para o interior. Dormimos na casa de uma prima minha, num colchão no chão da sala, como é costume na roça. Não tinha lido ou conversado nada a respeito do assunto na noite ou nos dias anteriores, mas meu sonho foi muito nítido. Morri, não sei do quê, e subi (desci ou fui em frente), sei lá. Cheguei numa espécie de seção de triagem, com duas filas. Nem vou entrar nessa de direita ou esquerda, pois não me lembro, o fato é que uma era dos bons, para o céu, a outra, dos malvados, para o inferno ou sabe-se lá pra onde.
Admito que fiquei em dúvida. O sujeito que recepcionava a turma da pesada até me olhou com uma certa simpatia, mas um anjo da guarda me soprou que meu destino era a porta dos ‘bonzinhos’. Soberbo, só por isso já deveria ter sido condenado, lembro que fui até a mesa do capataz do “inferno” e dei dois tapinhas de leve na bochecha dele, como se dissesse, “tá vendo, otário, me dei bem”. Em seguida, me dirigi para o lugar que conquistei por direito, acho.
No meu sonho, lembro bem, gostei da sensação. Era tudo uma paz, um sossego, uma tranquilidade por lá, como devem ser todos os paraísos, nirvanas, essas coisas. Mas era muito bom para ser verdade. Curtia eu, despreocupadamente, o local, quando, de novo, talvez o anjo da guarda que eu não via, veio me dizer que eu tinha de voltar para a terra. Tinha que reencarnar.
Ao imaginar que teria de passar por todo o processo vital de novo, comecei a chorar e acordei assustado. Com o correr dos anos, a memória já não ajuda muito e nem sempre consigo lembrar dos sonhos atuais, mas desse e dos detalhes dele nunca esqueci.
O falecimento de minha primeira esposa, que era médium de cura, e sempre acreditou piamente na reencarnação, me fez repensar muito o “sentido” da vida e o além dela. Ainda convivia com a “presença” e a energia dela pela casa quando, numa viagem de trabalho, um dos meus chefes tentou me consolar, da pior maneira possível. “Deixa isso pra lá, esquece, somos que nem formigas, morremos e acaba tudo”, disse ele.
Confesso que fiquei consternado e irritado, para mim, nada tinha acabado… A propósito, conto aqui uma experiência curiosa vivida antes e após a morte dela. Anos antes, assistíamos ao filme “Cocoon”, na cena em que a bela ET (Tahnee Welsh) ensina ao terráqueo, personagem de Steve Guttenberg, como se “fazia amor” no planeta dela. Permanecia um de cada lado da piscina, enquanto as vibrações na água sugeriam que ambos teriam chegado ao um orgasmo.
Lembro que minha mulher disse à época “nossa, deve ser muito bom isso”. Nunca mais tocamos no assunto. Pouco tempo após o falecimento dela, aquele período de perluto em que mal se consegue dormir, juro que senti de madrugada como se estivesse naquela mesma piscina do filme. Não era um orgasmo comum, eram espasmos agradáveis que percorriam o corpo todo. Acordei (não sei se estava realmente dormindo) com a sensação de que ela, como a bela ET, retornou para me mostrar como a coisa funciona do outro lado. Pode ter sido apenas uma sugestão, vai saber…
Manoel Dorneles
Contando História
O que o tempo altera e vira história
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O que o tempo altera e vira história
Só uma observação: dentro de meus parcos conhecimentos da linguagem ‘texto post mortem’ é algo que seria publicado somente depois que você morresse.
Vai que eu morri e não fui informado kkkk
Pra constar: post mortem significa póstumo, após a morte. O texto realmente é atual, desta vida aqui, mas o tema em questao é “post mortem”