Há cerca de 15 anos, escrevi um texto sobre as diferenças entre juventude e jovialidade. Gostaria de reproduzi-lo, evidentemente, com algumas atualizações, mas entendo que o sentido continua mais do que válido. No meu caso, eu já não era tão jovem à época, mas tentava, na medida do possível, ser jovial. Hoje, acho que não sou nem uma coisa nem outra.
Todos nós, na lida diária com as palavras, nos deparamos com algumas preciosidades, encruzilhadas e muitas vezes armadilhas do vernáculo. Por exemplo, há uma linha tênue a separar palavras de origens latinas, como juventude e jovialidade, com alguma similaridade em português, mas de significados bem diversos. Juventude vem do latim juventus ou juventute (novo, jovem, recente), enquanto jovialidade é derivada de jovialis (algo alegre ou prazenteiro).
Juventude é aquele curto período entre a adolescência e a idade adulta, que muitos tratam como se fosse um derivado do látex: tentam esticar ao máximo, custe o que custar. Outros tentam viver esse período como se realmente elástico ele fosse. Nem se dão conta de quando laceou ou arrebentou de vez.
Independentemente de ser jovem ou adulto, no entanto, não é de hoje que o ser humano corre atrás da chamada Fonte da Juventude. Acreditou-se até que ela estivesse recôndita nas Montanhas do Himalaia, como no famoso filme “Horizonte Perdido”, mas para frustração geral, lá como cá, o tempo continua implacável e cobra o seu preço como tem de ser.
Em termos concretos, por trás dessa busca está uma indústria de cosméticos que faturou em 2022 no Brasil (o 3º mercado mundial) mais de 45 bilhões de reais, e a área de beleza, com destaque para as clínicas de estética, segmento que cresceu no País cerca de 15% no último exercício. Em paralelo, não se pode esquecer o lado psicológico, de homens principalmente, vítimas muitas vezes da chamada Síndrome de Peter Pan. Alguns deles migram para a “Terra do Nunca”, onde se recusam a amadurecer em meio a ataques de rebeldia, cólera e narcisismo. Pobre das mulheres que lhes são próximas.
Muitos, na casa dos 40, fogem de compromissos sérios que nem o diabo da cruz e acreditam que a vida seja um “eterno transar e ficar”. O problema é descrito em detalhes no livro Síndrome do homem que nunca cresce, do psicólogo norte-americano Dan Kiley. Entre as mulheres, a síndrome, que recebe o nome de “Complexo de Cinderela”, é mais rara. Desde meninas, elas aparentam mais maturidade do que eles.
Se não chega a ser um contraponto à juventude, jovialidade, em minha opinião, é de longe o termo mais simbólico. Não consta que haja uma corrida à Fonte da Jovialidade; sequer uma indústria por trás que movimente bilhões de reais. Ao contrário de juventude, jovialidade não tem prazo de validade. O cara é jovial ou não é. Ele nasce com essa qualidade e certamente morrerá com ela. Em contrapartida, se não for, por mais que se esforce, jamais vai conseguir encontrar nas prateleiras alguma substância que lhe confira essa condição. O jovial, ainda conforme os dicionaristas, é “alegre, chistoso, engraçado… aquele que gosta de rir e de fazer rir”.
A pessoa será jovem, adulta ou idosa, exatamente nessa ordem, mas nem sempre será jovial. Pode parecer apenas um conforto para quem já passou dos 60, mas todos nós conhecemos uma infinidade de jovens ranzinzas e mal-humorados e muitos da chamada Melhor Idade pra lá de joviais. O jovial acorda de bom humor, por mais cinzento que esteja o dia, e assim permanece até a hora de dormir. Jamais será visto com aquela cara de “bom dia, por quê?”, que encontramos em casa, notadamente os pais de filhos adolescentes.
O Papa Pio XII, lá nos anos 1950, já se preocupava com o tema, quando defendeu a Geleia Real em um discurso, segundo ele, um “alimento concedido por Deus para conservar a jovialidade eterna”. Pode até fazer efeito, mas não acho que a atriz Irene Ravache precisou dele, quando disse aos 66 anos: “O que nos mantém jovens é a curiosidade.” Simples assim. Tampouco o lendário guitarrista B.B.King, que, aos 84 anos, declarou: “Quero ser melhor, muito melhor do que sou hoje. Não se está morto até morrer. Serei um garoto até a morte.”
Manoel Dorneles
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… e é por isso que eu sempre digo para todos: “Velho é a nona… sou apenas um idoso curioso que gosta de rir!” Eu, hein? Parabéns Dorneles… belo texto!